Relato - Bernard Freire



As experiências elétricas são as mais claras e mais agradáveis de todas as que a física oferece.
Joseph Priestley[2]

A força de um artista vem das suas derrotas.
Só a alma atormentada pode trazer para a voz um formato de pássaro.Arte não tem pensa:
O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê.
É preciso transver o mundo.
Manoel de Barros

Obrigado a Mônica Gouveia e ao Carminpor terem somado de corpo e pensamentos nesse projeto, contribuindo no ensinamento e formação de pessoas. Grato.
Falar do projeto é falar de tudo que a arte nos possibilita, a linguagem artística se multiplica em imaginações e fazeres da vida, ela está em todos os cantos. O trabalho foi desenvolvido a partir da tecnologia como dispositivo para se ter uma ideia sobre tudo nas aulas de artes e fazer com que os alunos conhecessem possibilidades de se fazer arte, buscando com que experimentassem suas ideias a partir de alguma situação com objetos eletrônico e as luzes que utilizávamos em algumas aulas. A tecnologia estava a favor das condições que a educação de uma escola publica de periferia tem a mostrar. Com suas dificuldades e soluções que era criado muito através do que eles imaginavam.
Foram sucatas, carcaças de aparelhos eletrônicos, celulares velhos, controles quebrados, entre outros aparelhos que os alunos traziam para as aulas e experimentavam para poder dar outra função do objeto real. Estamos conectados desde os tecidos orgânicos do nosso corpo até o universo, vivemos em um mundo cheio de mensagens naturais baseadas em dados, compartilhamos um conhecimento coletivo e nos mantemos em uma ampla rede diversificada. O ‘eu’’ somos “nós” espalhados nas digitalizações do nosso pensamento, o corpo eletrônico está multiplicado no espaço virtual prolongando o processo de criação artística que continuará a ganhar mais sentido nessa rede. Devemos ir mais além do que a imagem nos mostra, nos infiltrar por entre os códigos e ultrapassar as metáforas existentes nessas informações que visualizamos. A matéria física (imagem) é apenas a base, o conhecimento está nos detalhes imperceptíveis dessa conexão com o mundo, é natural; energia sensível que nos impulsiona à criação.
É basicamente isso, ou quase.
Ser professor e artista ao mesmo tempo nem sempre é confortável, os alunos estão ali meio que obrigados, e às vezes não interessados em dialogar com as aulas. Isso me possibilitou ensinar da forma mais adequada o conhecimento sobre a performance, as mídias e toda poesia possível que viesse a surgir. Durante o projeto apresentei as diferentes linguagens artísticas para os alunos que não percebiam um entendimento sobre arte. Acabaram gostando e acreditando numa forma divertida de aprender. As vezes fugia da escola, levava a atenção para outros planos. Não se tinha internet, mas se tinha imaginação, diversão e criação do que tudo isso estava nos mostrando.
De forma clara, foi na pratica e na confiança da imaginação que tudo começou a surgir. Por meio de aulas de teatro, conversas, demonstrações o jogo foi surgindo e os alunos ficando mais a vontades de experimentarem e conduzirem as suas ideias em cenas, textos, frases, palavras, sons.Era preciso brincar com a luz, fazer formas, riscos, mover com o corpo, rir, ter atenção, mostrar, sentir vergonha, se arriscar, sair do lugar, bagunçar, ir além da escola. Estávamos aprendendo sobre tecnologia e performance, tudo era real e levamos em consideração os problemas enfrentados pelos alunos tanto na escola como no cotidiano de suas vidas.
A interação digital que busco desenvolver em meus trabalhos aperfeiçoa o espaço físico ao colocá-lo em prática, mantendo presente um pensamento para a construção do trabalho junto com outros atores. O movimento direciona cada caminho que o corpo pode atingir, capta o que o olhar registra sem perceber, condiciona outras definições para um conteúdo e se registra em algo. O olhar, através do processo virtual, ultrapassa o entendimento do mesmo, detecta códigos que se assemelham com a percepção do mundo real. Através desse pensamento, o corpo atinge a dimensionalidade que propaga na rede virtual, criando as invisibilidades presente em nossas vidas.
Nosso tempo se alarga, cria um léxico infinito de nossos entendimentos, das línguas variantes que compreendem o fluxo da rede. A comunicação humana se torna veloz, percebendo nossos interesses e objetivos aos quais estamos seguindo; assemelha-se a máquina que constrói uma reprodução do corpo vivo. O entendimento performático ultrapassa o estado do aqui e agora, agimos como vários seres nesse tempo infinito que o corpo virtual permite. Nesse sentido somos máquinas, sensações intensificadas na rede digital programada por nós, um ser humano androide semelhante ao corpo natural criado pela mente.
A representação corporal pela tecnologia alcança diversas identificações que se comunicam numa flexibilidade de compreensão do inexistente, do vago que explica a energia que intensifica a vida. A transmissão do imaginário é visível, estende nosso corpo a outras modificações como a Bodyart (arte do corpo) que se manifesta nas artes visuais nas quais até o corpo do próprio artista pode ser utilizado como suporte ou meio de expressão presente na criação de sua obra de arte. Atingimos o estado em que o sujeito se torna mera informação para possíveis experimentos. Diante dessa dimensão o corpo se contamina nas e pelas informações desse mundo virtual, criando vários conceitos do corpo misturados a várias interpretações do homem com a máquina. Com essas inúmeras identificações presentes na contemporaneidade, o corpo deixa de interagir naturalmente e passa a convergir em dados por meios de softwares, superando em partes a existência humana já que este é quem faz tudo funcionar por meio da mente e do corpo. Compreendendo o mundo e construindo o conhecimento.

2 Foi um teólogo, clérigo dissidente, filósofo natural, educador, teórico e político britânico que publicou mais de 150 obras.

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