Recarregando; Águas. (Quebra-Barragem)


Terceiro Encontro: TerAto


O exercício de in-corporação da crise da escassez da água na escola reimaginada como comunidade/povoado. Sobretudo quando o problema de base desse exercício afeta o comum de maneira frontal. Esse imaginário colocou em cena a eminência da dor-alegria do agir juntxs. Não só pensar, dizer e calar como vinhamos fazendo em nossas diversas rodas de pontos de vistas, mas sim in-corporar o pensado. In-corporar a revolta. Pôr em Ato os sentidos e o sentido no corpo que está no mundo onde a água está sob custódia do Mercado/Estado. Lá onde o direito a água é sequestrado e convertido em negócio e barganha sob o espírito do lucro. E ainda no que dialogávamos sobre as tecnologias elétricas e sobre o mercado da energia consumida intensivamente. Pegar estas visões de existência/resistência a partir da perspectiva da comunidade tradicional (aqui elaborada como sentido e perspectiva de mundo) nos atiçava a querer co-criar situações de enfrentamento coletivo do problema.

Esse imaginário atuante como comunidade e não somente como estudantes realocava as posições de vinculo e pertencimento. Vinculo que reconhecia um território em comum. Território sob pressão dos Mercadores de Água que enxergam as potencias da vida como potencial econômico. Esse deslocamento in-corporação de estudantes para povoado. Ou seja. De "alunxs" para povo como singularidade coletiva. Nos fazia repensar os lugares dxs educandxs também como micro-comunidades. Matriculadxs na mesma sala e sofrendo coletivamente, entre outras coisas, a escassez da água. Quem os responsáveis pela distribuição da água? Quais os personagens que decidem sobre o bem comum? Por que um bem comum está sob custódia e é preciso revindicar esse bem frente a esses personagens? Pensávamos juntxs. Pensávamos como compor uma cena-acontecimento-incorporação da revolta que elevasse a consciência de pessoas que detém direitos.

Chegamos num acordo que haveria quatro territórios: O Território do Poder. O Território do Deslocamento,Território da Comunidade afetada e o Território da Mídia Jornalística.

O Território do Poder consistia no palácio dos governadores em conluio com os mercadores de água. Centro de decisão de alguns privilegiados (que seriam atuados por três educandxs). Nesse centro estava radicado o poder político-econômico oficial que abrigava os personagens da governança que não sofriam com a escassez da água mas sim manipulavam interesses pessoas neste ínterim.

O Território do Deslocamento consistia no espaço entre a comunidade diretamente afetada pelas medidas tomadas pelos governadores e o palácio onde estavam radicados os representantes do Poder. Esse entre-lugar do deslocamento era habitado pelas pessoas do cotidiano duma cidade qualquer. Pessoas que não são de comunidades tradicionais. Pessoas que há gerações tiveram seus Territórios de origem transformados em mercadoria pela mesma lógica que assediava a comunidade agora. E que sem seus territórios foram transformadxs em pobres: feirantes, traficantes, pixadorxs, vendedoxs ambulantes, mendigos etc.

O Território da Comunidade consistia no lugar de memória coletiva e pertencimento originário. Onde a relação com a terra não era de proprietários individuais mas de posse coletiva. Posse que remonta ao pertencimento afetivo da linhagem das avós e dos avôs que estabeleceram modos de vida singulares no entrelaçamento das culturas sobretudo afroameríndias na amazônia.

O Território da Mídia Jornalística consistia na imprensa independente que elaboraria as narrativas  audiovisuais sobre o acontecimento do conflito entre o Território do Poder e o Território Comunitário sobre a questão da escassez da água. (gravando tudo pelos celulares)

O conflito atravessava os três territórios num campo de forças nitidamente desiguais entre a Comunidade e os Governadorxs e Mercadorxs de Água. A água da comunidade havia sido barrada pelo governo sobre pressão dos Mercadores que almejavam monopolizar sua distribuição por taxa. As lideranças comunitárias sentindo na escuta da coletividade como a falta de água estrangulava a comunidade começaram a mobilizar politicamente as pessoas. Os educandxs que atuavam as pessoas da comunidade começaram a elaborar cartazes e organizar uma passeata em direção ao Palácio dos Governadores. Mas o número não era expressivo para fazer pressão. No deslocamento Comunidade/Governo era necessário convencer as pessoas da cidade a somarem na passeata. Conscientizá-las. Nosso exercício performático visava exercitar a capacidade de contágio, de empatia e de pensamento crítico sobre o problema levantado. Levantado desde o primeiro encontro. Passso-a-Passo. Enquanto a mídia independente colhia dados e informações sobre os acontecimentos registrando momento a momento.

Conseguimos alguma autonomia prxs educandxs criarem o momento evitando a condução na maior parte do tempo. Antes dando suporte pras ideias que surgiam. O resultado que segue nos vídeos abaixo é o material direto dos acontecimentos de nossos encontros na tentativa de pensar arte-educação com os problemas reais e que estão dentro do contexto das pessoas envolvidas. Tanto o teatro, a performance e o audiovisual são instrumentos de criação e reelaboração de mundos. Instrumentos capazes de compor e recompor percepções quando usados com lucidez e ética. E lucidez capaz de  abrir nossos entendimentos sobre as forças e poderes que nos atravessam a cada momento.


Abaixo o vídeo:













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